terça-feira, 12 de junho de 2007

Suassuna: prosa, verso e gravura

Aproveitando a onda de justas homenagens a Ariano Suassuna, que completa 80 anos no próximo dia 16 de junho, coloco aqui uma poesia de sua lavra, que tem a ver com o dia de hoje.
Suassuna considera a poesia a essência de seu trabalho, apesar de ser mais conhecido pelo público como dramaturgo. Como se não bastasse, ele também incursiona pelas artes plásticas: acima, uma iluminogravura* de sua autoria que, como sua obra escrita, lembra cordel e arte medieval.

*Iluminogravura é uma expressão criada por Suassuna que deriva da fusão das palavras iluminura (desenhos decorativos de livros produzidos em conventos e abadias medievais) e gravura.
Ele primeiro produz uma matriz a nanquim, depois faz cópias em offset. Cada cópia é então trabalhada manualmente, colorida a pincel com tintas guache, óleo e aquarela.


A mulher e o reino
Ariano Suassuna

Oh! Romã do pomar, relva esmeralda
Olhos de ouro e azul, minha alazã
Ária em forma de sol, fruto de prata
Meu chão, meu anel, cor do amanhã

Oh! Meu sangue, meu sono e dor, coragem
Meu candeeiro aceso da miragem
Meu mito e meu poder, minha mulher

Dizem que tudo passa e o tempo duro
tudo esfarela
O sangue há de morrer

Mas quando a luz me diz que esse ouro puro se acaba pôr finar e corromper]
Meu sangue ferve contra a vã razão
E há de pulsar o amor na escuridão

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